O alargamento do âmbito das Humanidades viabilizado pelos Estudos Culturais permitiu o entendimento de que o poder não se aloja apenas em objetos textuais, mas nas práticas derivadas da relação dos sujeitos com esses objetos. A imagem emergiu, nas últimas décadas, com especial relevância enquanto objeto codificado e codificador de ideologias e práticas sociais, afinal, apenas veículo e expressão da cultura ocularcêntrica e da espetacularidade performativa nas sociedades contemporâneas. Esta prevalência tende, no entanto, a normalizar as práticas de visualização, ocultando as relações de poder que lhes subjazem. A abordagem privilegiada por esta escola é justamente desmontar criticamente os processos através dos quais determinados regimes visuais se instalam e também como a cultura cria espaço para a sua contestação e para a criação de outras visualidades – ou contravisualidades. A perspetiva dos Estudos de Cultura Visual, uma das ramificações dos Estudos Culturais, afigura-se como a mais adequada para essa abordagem, no sentido da divulgação, aplicação e discussão de conhecimento produzido por investigadores/as do CES, de outras unidades da Universidade de Coimbra, de outras instituições ou outros especialistas que desenvolvem investigação neste domínio, a estudantes e jovens investigadores/as. Os objetivos principais são desenvolver uma reflexão teórica e uma análise crítica articuladas sobre fenómenos associados a objetos e práticas visuais.
A segunda edição da escola pretende explorar, especificamente, a cultura visual da Revolução de Abril. Importa-nos refletir acerca de como objetos e práticas visuais apontavam outros modelos de ver o mundo, representar questões de sociabilidade e de comunidade, bem como sobre o próprio conceito de visual e como ele se (re)articula perante as representações de liberdade e cidadania no contexto da Revolução. Iremos interrogar e analisar o papel de media visuais e artísticos na desconstrução de perceções erróneas, preconceitos, distorções e invisibilizações, a par de novas propostas de representação de alteridade e de deteção e reparação de injustiças e desigualdades no domínio sociocultural. Serão, portanto, escrutinadas formas de expressão artística e popular contra-culturais e contra-hegemónicas, com predomínio das gramáticas do visual que se têm projetado no tempo até à contemporaneidade – do documentário à pintura, fotografia, arte urbana e banda-desenhada, que assim vão atualizando o contributo e os ideais da revolução de Abril.
Em termos metodológicos, e uma vez que a cultura está no centro dos estudos, a análise será interdisciplinar, contando a escola com uma equipa de formadores/as de disciplinas diversas e envolvendo metodologias como, por exemplo, a pedagogia pelas artes, a análise de discurso multimodal, a história e os estudos culturais, que pretendem dar resposta a um entendimento mais amplo da imagem enquanto complexo agregador de forma, cor e texto. O estudo da imagem como um complexo que apela não apenas ao olhar, mas a outros sentidos permite, por sua vez, desenvolver no público participante competências de multiliteracias: visual, digital e estética.
Coordenação
Maria José Canelo (Docente FLUC e Investigadora CES) e Patrícia Silva (Investigadora CES)
Parcerias
Programa de Mestrado em Estudos de Cultura, Literatura e Línguas Modernas
- Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Público-alvo
Estudantes e docentes do ensino superior, docentes do ensino básico e secundário e público em geral
Corpo de formadores/as
Ana Bela Almeida (Universidade de Liverpool, RU)
Ellen Sapega (Universidade de Wisconsin-Madison, EUA)
Inês Nascimento Rodrigues (CES)
João Miguel Lameiras (Investigador independente)
Mariana Malhão (artista)
Maria José Canelo (FLUC/CES)
Marisa Ramos Gonçalves (CES)
Miguel Cardina (CES)
Patrícia Silva (CETAPS/CES)
Pierre Marie (CES)
Rita Campos (CES)
Formato da escola
- Palestras de académicos e artistas convidados/as;
- Seminários dinamizados por formadores;
- Visitas a instituições locais e a eventos culturais;
- Visionamento de documentário e debate com a realizadora;
- Atividade criativa coletiva;
- Oficinas de apresentação de trabalhos pelo/as participantes e discussão entre pares e com formadores/as e coordenadoras.
[Programa]
Inscrição
Early-bird (entre 5 de fevereiro e 10 de maio): 100€ - geral || 75€ - desconto para estudantes dos programas parceiros (Mestrado em Estudos de Cultura, Literatura e Línguas Modernas)
Inscrição normal: (entre 11 de maio e 14 de junho): 120€ - geral || 90€ - desconto para estudantes dos programas parceiros (Mestrado em Estudos de Cultura, Literatura e Línguas Modernas - Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas)
São aceites desistências (mediante comprovativo) até ao dia 10 de Junho, com direito a reembolso parcial do valor da inscrição.
+ 2 vagas para investigadores/as, investigadores/as em pós-doutoramento e investigadores/as juniores do CES
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Imagem: Maria Helena Vieira da Silva, cartaz A poesia está na rua (detalhe)