Notícia

Profissionais de saúde LGBTQ+ afirmam enfrentar discriminação em Portugal

Inquérito nacional do projeto PULSAR revela que quase metade destes profissionais já sofreu ou presenciou situações de discriminação no local de trabalho

O projeto PULSAR – O papel de profissionais LGBTQ+ para uma saúde inclusiva, desenvolvido no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, acaba de divulgar os resultados de um inquérito nacional que traça um retrato sobre as experiências de pessoas LGBTQ+ que trabalham na área da saúde em Portugal.

O estudo, coordenado pela investigadora Mara Pieri e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), contou com a participação de 178 profissionais de saúde, entre os quais enfermeiros/as (27%), médicos/as especialistas (23%), médicos/as internos/as (21%) e técnicos/as de várias áreas (17%). A recolha de dados foi realizada entre maio e agosto de 2025, através de um questionário online.

Os resultados mostram que a discriminação continua presente no quotidiano de muitos profissionais de saúde LGBTQ+, com impacto direto no seu bem-estar e na qualidade do ambiente de trabalho.


Principais conclusões do inquérito

  • 47% dos/as participantes afirmam ter sofrido discriminação pelo menos uma vez no contexto profissional. Foram relatados episódios de ameaças, insultos e comentários homo- ou transfóbicos, bem como impedimentos de exercer determinadas funções — como no caso de um enfermeiro gay que foi proibido de cuidar de jovens do sexo masculino.
  • 49% referem ter presenciado situações de discriminação praticadas por outros colegas.
  • 83% já ouviram piadas homofóbicas ou ofensivas no local de trabalho. Mesmo quando não há revelação da orientação sexual ou identidade de género, o preconceito manifesta-se em comentários dirigidos a terceiros.
  • 53% consideram que ser LGBTQ+ é uma fonte de stress no trabalho, apontando o preconceito, a ignorância e a falta de formação sobre estas temáticas como fatores que agravam o desgaste emocional.
  • 73% defendem que é urgente investir em formação específica sobre questões LGBTQ+ para todos os profissionais de saúde. Mais de metade afirma que o seu local de trabalho não está preparado para lidar com utentes LGBTQ+.

Ainda segundo os dados apurados, “Existem muitos obstáculos para que as pessoas LGBTQ+ se sintam bem no trabalho. No caso dos profissionais de saúde, o stress decorrente da discriminação tem um grande impacto na saúde mental”, explica Mara Pieri, investigadora responsável pelo projeto.

“A maioria dos participantes nunca revelou a sua identidade a utentes ou doentes. Essa invisibilidade faz com que se pense que não existem profissionais LGBTQ+ no setor da saúde e, por consequência, que não é necessário agir para promover inclusão – o que afeta tanto os profissionais como os utentes LGBTQ+”, acrescenta.

O relatório completo do inquérito está disponível em: https://pulsar.ces.uc.pt/pt/resultados-do-questionario-realizado-online/