Seminário

Desafios de uma Sociologia da Inteligência Artificial: Poder, Mitos e Representações

Helena Machado (Universidade do Minho / CVTT-ISCTE)

4 de abril de 2025, 17h00-19h00

Sala Keynes, Faculdade de Economia da UC

Que regimes de verdade e que relações de poder sustentam a Inteligência Artificial (IA)? Como se constrói socialmente a ideia de uma IA autónoma e inevitável? Proponho uma agenda de investigação para uma Sociologia da IA que a analise como um fenómeno sociotécnico, inscrito em redes de atores humanos e não humanos, e não como uma entidade neutra ou puramente técnica. 

Quais são os mitos, metáforas e promessas que moldam as narrativas sobre IA? Que interesses económicos e políticos promovem determinadas visões sobre o seu impacto? Uma abordagem crítica exige desconstruir estas retóricas e questionar quem define os valores, normas e objetivos da IA e em benefício de quem. 

De que modo a IA reproduz e amplifica desigualdades estruturais? Como é que as suas infraestruturas, lógicas e usos se inscrevem em histórias de capitalismo, colonialismo, patriarcado e racismo? Analisar a IA como tecnologia relacional implica mapear estas continuidades e os seus efeitos assimétricos sobre diferentes grupos sociais. 

Quem são os atores – visíveis, invisibilizados ou silenciados – que participam no ecossistema da IA? Como podemos incluir múltiplas vozes e imaginar futuros alternativos para estas tecnologias? Desafio a Sociologia a articular-se com ferramentas criativas de escrita ficcional e do visual digital, explorando metodologias inovadoras para produzir conhecimento híbrido e situado sobre os mundos sociais da IA.


Nota biográfica

Helena Machado é Investigadora Coordenadora Convidada na Associação ISCTE Conhecimento e Inovação – Centro de Valorização e Transferência de Tecnologias (CVTT-ISCTE), Instituto Universitário de Lisboa;  e Professora Catedrática de Sociologia no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. Atualmente, coordena o Conselho Científico das Artes, Humanidades e Ciências Sociais da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho de investigação, foi beneficiária de duas bolsas do European Research Council (ERC). Entre 2015 e 2021, liderou o projeto “Exchange” (Consolidator Grant), que analisou as implicações sociais das redes transnacionais baseadas em tecnologias de genética forense no controlo da criminalidade na Europa. Em 2024, foi-lhe atribuída uma “Advanced Grant” para o projeto “fAIces”, que investigará as implicações das tecnologias de reconhecimento facial baseadas em inteligência artificial para a privacidade, os direitos humanos e a democracia.

A sua investigação situa-se na interseção dos estudos sociais da ciência e tecnologia e da ética pragmática. Focando o caso de tecnologias emergentes de identificação humana, nos campos da genética forense e da inteligência artificial, explora as controvérsias públicas geradas em torno destas tecnologias, o envolvimento dos públicos e as readaptações de cientistas e empresas aos desafios éticos e sociais.