Teses Defendidas
Transferência de Conhecimento em Portugal Mudança e Institucionalização das Relações Universidade-Empresa
4 de Dezembro de 2012
Governação, Conhecimento e Inovação
Tiago Santos Pereira
As universidades enquanto produtoras de conhecimento adoptaram nas últimas décadas uma terceira missão de promoção do desenvolvimento socioeconómico. Englobando um conjunto de actividades que dão relevância à transferência de conhecimento enquanto processo de disseminação, partilha, troca e comercialização de conhecimento, esta missão inclui mas não se limita à visão estrita centrada no patenteamento e criação de spin-offs. Portugal tem vindo a tentar dinamizar a transferência de conhecimento, num contexto onde a noção do paradoxo europeu, devido à incapacidade da investigação académica gerar inovação, surge como verdade cristalizada face à realidade norte-americana onde a implementação do Bayh-Dole é vista como prática a replicar.
O estudo utiliza uma pluralidade de abordagens teóricas e metodológicas, ligadas ao pensamento institucionalista na Economia e aos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, para debater a institucionalização da transferência de conhecimento na universidade portuguesa na última década. A primeira componente empírica enquadra o caso português. Com base em dimensões institucionais centrais para o desempenho das economias nacionais, utiliza-se a análise de clusters para encontrar uma tipologia de sistemas de inovação em países europeus. Esta análise confirma a capacidade limitada do sistema de inovação português. A segunda componente analisa o desempenho nacional em aspectos institucionais dando atenção à mudança na transferência de conhecimento, novas políticas, actores e comportamentos. A terceira componente utiliza a Teoria do Actor-Rede para caracterizar esta institucionalização. Focando o estudo de caso de um gabinete de transferência de conhecimento (KTO) em Portugal, é desenhada a cronologia de eventos para compreender as fases de tradução até à estabilização. As redes do gabinete são analisadas permitindo compreender aspectos cruciais do seu funcionamento. A parte empírica final apresenta, os desafios e contradições entre membros da academia e do mundo empresarial, com diferentes estilos de pensamento, que geram tensões e carecem da mediação e tradução de actores de fronteira. Com base num focus group e depois, utilizando a Andaluzia como 'material estratégico de investigação' para a realidade portuguesa, são identificados os determinantes do envolvimento, número, diversidade e informalidade de relações de transferência, na perspectiva de grupos de investigação e empresas. A experiência prévia, valorização da relação universidade-empresa e o papel do KTO são factores essenciais.
Os resultados têm implicações práticas para a organização dos KTOs e para a definição de políticas. O espaço europeu apresenta uma diversidade assinalável em termos institucionais o que resulta numa dificuldade acrescida de partilha de boas-práticas. A tensão universidade-empresa necessita de mediadores eficazes onde 'indivíduos marginais' são essenciais aos processos de tradução entre diferentes colectivos. A visão estrita da comercialização de ciência é largamente insatisfatória para compreender a dinâmica de relacionamento, principalmente em regiões onde o tecido empresarial tem uma capacidade de absorção limitada. O excessivo incentivo a determinados mecanismos, como as patentes universitárias, transforma meios para a transferência em fins. Apesar da atenção acrescida à transferência de conhecimento, a institucionalização deste processo é incompleta e tem sido alicerçada em bases instáveis na universidade portuguesa.
Palavras-chave: Transferência de Conhecimento; Universidade; Actor-Rede; Mudança Institucional; Institucionalização; Sistema de Inovação; Variedades de Capitalismo.
Data de Defesa
Programa de Doutoramento
Orientação
Resumo
O estudo utiliza uma pluralidade de abordagens teóricas e metodológicas, ligadas ao pensamento institucionalista na Economia e aos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, para debater a institucionalização da transferência de conhecimento na universidade portuguesa na última década. A primeira componente empírica enquadra o caso português. Com base em dimensões institucionais centrais para o desempenho das economias nacionais, utiliza-se a análise de clusters para encontrar uma tipologia de sistemas de inovação em países europeus. Esta análise confirma a capacidade limitada do sistema de inovação português. A segunda componente analisa o desempenho nacional em aspectos institucionais dando atenção à mudança na transferência de conhecimento, novas políticas, actores e comportamentos. A terceira componente utiliza a Teoria do Actor-Rede para caracterizar esta institucionalização. Focando o estudo de caso de um gabinete de transferência de conhecimento (KTO) em Portugal, é desenhada a cronologia de eventos para compreender as fases de tradução até à estabilização. As redes do gabinete são analisadas permitindo compreender aspectos cruciais do seu funcionamento. A parte empírica final apresenta, os desafios e contradições entre membros da academia e do mundo empresarial, com diferentes estilos de pensamento, que geram tensões e carecem da mediação e tradução de actores de fronteira. Com base num focus group e depois, utilizando a Andaluzia como 'material estratégico de investigação' para a realidade portuguesa, são identificados os determinantes do envolvimento, número, diversidade e informalidade de relações de transferência, na perspectiva de grupos de investigação e empresas. A experiência prévia, valorização da relação universidade-empresa e o papel do KTO são factores essenciais.
Os resultados têm implicações práticas para a organização dos KTOs e para a definição de políticas. O espaço europeu apresenta uma diversidade assinalável em termos institucionais o que resulta numa dificuldade acrescida de partilha de boas-práticas. A tensão universidade-empresa necessita de mediadores eficazes onde 'indivíduos marginais' são essenciais aos processos de tradução entre diferentes colectivos. A visão estrita da comercialização de ciência é largamente insatisfatória para compreender a dinâmica de relacionamento, principalmente em regiões onde o tecido empresarial tem uma capacidade de absorção limitada. O excessivo incentivo a determinados mecanismos, como as patentes universitárias, transforma meios para a transferência em fins. Apesar da atenção acrescida à transferência de conhecimento, a institucionalização deste processo é incompleta e tem sido alicerçada em bases instáveis na universidade portuguesa.
Palavras-chave: Transferência de Conhecimento; Universidade; Actor-Rede; Mudança Institucional; Institucionalização; Sistema de Inovação; Variedades de Capitalismo.