GPS - Grupo de Pesquisa em Sexualidades
Comunicados
Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania
COMUNICADO GPS
Grupo de Pesquisa em Sexualidades do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Quem protege as crianças?
Portugal viveu a mais longa ditadura da Europa Ocidental. Esse legado repercute-se, 51 anos depois, na falta de literacia para a sexualidade e a diversidade de género, que tem como consequências sociais gravosas a violência, a ignorância, o preconceito, a vergonha e a invisibilidade. Em muitos lugares e ocasiões, a diversidade continua a ser um tema tabu, deixado ao critério de quem tem sorte ou azar, perante um Estado por vezes omisso, e na maioria das vezes, negligente.
Em anos recentes, Portugal desceu 6 posições na classificação europeia dos Direitos LGBTQI+. Não se trata de uma banalidade. Foi apenas em 2023 que Portugal proibiu as chamadas terapias de conversão que, em vários países, têm o mesmo estatuto de práticas de tortura, uma vez que é disso que se trata. Estudos demonstram que a incidência de problemas associados à saúde mental, como automutilação, ideação suicida e depressão, são entre 3 a 5 vezes superiores em crianças e jovens LGBTQI+. A razão é complexa, mas explica-se em poucas palavras: discriminação, preconceito, ignorância. Mais especificamente: homofobia, bifobia, transfobia.
A incúria e o descaso na área das sexualidades e do género que remete para o acaso a Educação Sexual, levada mais ou menos a sério, conforme a boa vontade das Direções de Agrupamentos e, porventura mais relevante, de cada docente, é um contributo indubitável para estes números. O artigo 13º da Constituição da República Portuguesa aponta os critérios fundamentais para o cumprimento do Princípio da Igualdade. É preciso que os conteúdos lecionados em ambiente escolar tenham um nome para que possam ser
reconhecidos e respeitados na sua plenitude, como matéria de aprendizagem essencial e não acessória. A educação para a diversidade sexual e de género não é uma distração, um fator menor, um sobrepeso que se dispensa sem ouvir quem é especialista. E diversidade sexual e de género não cabe exclusivamente no campo da saúde
.
Enquanto especialistas nas áreas dos Estudos de Género e Estudos LGBTQI+, com reconhecimento nacional e internacional, reafirmamos que é competência incontestável da escola garantir que crianças e jovens têm acesso a uma educação plural e esclarecedora dos seus direitos fundamentais.
Sem cidadania sexual não existe uma cidadania plena, requisito incontornável para uma democracia livre, igualitária e robusta.
Sem condições de igualdade na educação para a cidadania quem protege as crianças LGBTQI+? Quem protege as crianças filhas de pessoas LGBTQI+? Quem protege as crianças com familiares LGBTQI+? No fim de contas, quem protege as crianças?
Grupo de Pesquisa em Sexualidades do Centro de Estudos Sociais (GPS-CES), Universidade de Coimbra
Ana Cristina Santos
Ana Lúcia Santos
Angeliki Sifaki
Antoni Jesús Aguiló
Caynnã Santos
Cecília MacDowell Santos
Daniel Santos Morais
Daniela Ferrández Pérez
Fabrina Martinez
Fernanda Belizário
Gustavo Mariano
Irene Massa
Isa Correia de Barros
Iuri Garcia Lopes
Jessica Morris
Joana Brilhante
Júlia Garraio
Leonardo Cascão
Madalena Duarte
Mafalda Esteves
Mara Pieri
Margarida Cássia Santos
Maria de Fátima Ribeirinha
Mariacristina Migliore
Marina Oliveira Guimarães
Marta Mascarenhas
Milena Cunha dos Santos Do Carmo
Moisés Menezes
Pablo Pérez Navarro
Patrícia Santos
Paula Dürks Cassol
Pedro Fidalgo
Rita Alcaire
Rosa Monteiro
Rubén Mecalco
Sofia Branco Sousa
Tatiana Moura
Vítor Godoi