RuralDEcol
Descolonização Rural: A Revolução Portuguesa e a Libertação dos Campos de Aldeamento em Angola, Moçambique, e Guiné-Bissau, 1974-75

Período
16/09/2024 a 15/03/2026
Resumo

50 anos depois da Revolução dos Cravos, e apesar da existência de uma rica literatura sobre a Guerra Colonial, poucas pessoas em Portugal sabem que o Exército português, ao longo dos anos 60, deslocou 2 milhões de camponeses para campos de aldeamento, nas zonas rurais de Angola, Moçambique, e Guiné-Bissau. O projecto RuralDecol procura reparar esta situação, para que as pessoas portuguesas compreendam melhor a história do seu país; e, em particular, que o golpe militar de 25 de Abril de 1974 trouxe a remoção do arame farpado que muitas vezes rodeava os milhares de campos de aldeamento, e libertou as pessoas para gradualmente começaram a transformar os antigos aldeamentos, de acordo com as suas próprias aspirações, criando muitos bairros, aldeias e vilas que existem até hoje.

Simultaneamente, muitos soldados portugueses foram também libertados de fazer a guerra, e deixaram as novas aldeias que vigiavam em África para regressar ao seu país, frequentemente para aldeias no interior. O projecto RuralDecol tem como objectivo contribuir para uma compreensão da experiência vivida da descolonização em zonas rurais de Angola, Moçambique, e Guiné-Bissau, no período entre o golpe militar do 25 de Abril e a independência política dos 3 países, em 1974 e 1975. Em particular, RuralDecol concentra-se na experiência espacial da libertação dos 2 milhões de camponeses que viviam sob condições de aldeamento militar nos 3 países, incluindo as transformações no ambiente construído, como as no espaço social.

Apesar da pesquisa em história da arquitectura e campos próximos já ter começado a enfrentar a a história negligenciada do aldeamento de guerra após 1961, muito pouco se sabe sobre o momento de libertação e do início da descolonização. Como é que 2 milhões de Angolanos, Moçambicanos, e Guineenses começaram a transformar as suas próprias vidas e ambientes construídos à medida que os militares e administradores portugueses partiam para a Europa? RuralDecol irá entrevistar antigos militares em Portugal e  pessoas "mais velhas" na África rural. O projecto coloca a hipótese de que se poderá compreender a dimensão espacial das descolonizações rurais como um processo silencioso de transformação política, negligenciado no quadro de uma militarização da memória.

Resultados

O projecto irá partilhar em linha com o público em geral um mapa criado em SIG localizando as memórias de antigos militares e camponeses. Além disso, será criada por um artista português uma novela gráfica inspirada nas entrevistas realizadas, concentrando-se na dimensão afectiva da descolonização rural. Cópias impressas desta novela gráfica serão entregues a todas as escolas secundárias e de terceiro ciclo em Portugal. Não existindo outras fontes para além dos testemunhos de quem viveu a descolonização rural, é urgente lembrar agora a libertação dos campos de aldeamento em África durante a Revolução Portuguesa.

Investigadoras/es
Ana Drago
Francesca Vita
Rui Aristides Lebre
Tiago Castela (coord)
Vera Polido Baeta
Palavras-Chave
África, urbanismo rural, desenvolvimento, etnografia espacial
Financiamento
Fundação para a Ciência e Tecnologia