6 de Dezembro de 2024

International Politics and Conflict Resolution

Bernardo Teles Fazendeiro

A Igreja Ortodoxa Russa (IOR), ou talvez mais especificamente, o Patriarcado de Moscovo, é uma das instituições religiosas do cristianismo ortodoxo mais amplamente reconhecidas na Federação Russa e no mundo. Tudo o que é físico só tem significado através do social, da mesma forma que o espaço físico só ganha significado com o espaço social. Compreendendo as mudanças geopolíticas decorrentes do colapso soviético, e mais recentemente com a guerra da Ucrânia, muitos académicos e especialistas em religião, têm argumentado que a igreja se tem posicionado de um modo a ter influência nos assuntos internos e na política externa da Rússia, permanecendo como "um braço direito" do Kremlin. Outros afirmam que a situação é muito mais ambígua e que a IOR está dividida em pelo menos três linhas internas concorrentes que competem pelo poder e pela influência na direção da Igreja, algumas das quais defendendo a independência face ao Kremlin. Embora concordando com as ambas as perspetivas anteriores, em toda a literatura parece existir uma grande lacuna: delinear o espaço da IOR. O meu argumento vai no sentido de nos interrogarmos sobre qual a natureza do espaço onde a IOR operacionaliza a sua política interna e externa. Analisar esta operacionalização no espaço sagrado e não sagrado é essencial para perceber porque é que a Federação Russa deixou de obedecer ao espaço vestefaliano e passou a seguir o objetivo do espaço sagrado. A sobreposição de um espaço sagrado sobre o espaço vestefaliano é a chave para compreender as justificações retóricas de Moscovo no cenário contemporâneo, especialmente após a invasão russa em larga escala da Ucrânia, em 2022, além de nos permitir refletir sobre a previsibilidade das novas dinâmicas que possam surgir entre religião e política internacional.

Palavras-Chave: Igreja Ortodoxa Russa, Federação Russa, Espaço Vestefaliano, Espaço Sagrado, Ucrânia